Quando temos uma doença
que nos acompanha pra sempre, muita coisa muda em nossa vida, vivemos momentos
que jamais imaginamos viver.
O primeiro grande impacto
da doença é a auto-aceitação, depois de muita luta interna, começamos a
descobrir o caminho da aceitação, de nos aceitar, de buscar compreender a
doença e conviver com a dor. O momento de aceitação é algo tão inexplicável que
quando estamos vivendo, nós mesmos, não percebemos este momento, de
repente nos damos conta, que passou, simplesmente: nos aceitamos ou nos
revoltamos, eu escolhi o caminho da aceitação.

Mas
algo que dói muito é a descrença das pessoas, a desconfiança, ignorância e
o preconceito. Muitas vezes associam a nossa doença com a famosa “frescura”,
outros nos rotulam por “coitadinhos”, “doentes” ou satirizam em tom de ironia a
nossa “situação de pessoa com a doença” ou de pessoa com a deficiência.
A dor da falta de compreensão, ignorância e preconceito, é uma dor que não
passa com codeína, tramadol, morfina: é uma dor que marca na alma. No meu
conceito essa é a dor mais impactante, é a dor que nos mostra quem são as
pessoas, que considerávamos ser nossos amigos, pessoas que sempre fizemos tudo
por elas, e quando precisamos se voltam a nós, satirizando a nossa condição. Essa dor é
uma dor pra sempre, uma dor que nada é capaz de amenizar. Defino essa dor
por “Dor Social”.
Muitas vezes, não é a dor
da Artrite que nos leva a depressão, mas sim a “Dor Social”, pois nos deixa
indignados, nos faz se sentir rejeitados, pela falta de amor ao próximo,
existem pessoas que falam da doença dos outros, como se fossem uma rocha inabalável,
satirizam a nossa doença, como se tivessem certezas que nunca vão ficar
doentes.
Eu aprendi que não devemos
jogar “praga” em ninguém, mas aprendi também, que tudo aquilo que plantamos
nessa vida vamos colher, sempre peço a Deus que não deixe essas pessoas,
doentes de alma, saberem o que é a Dor da AR, a sentirem o impacto de mudança
que a AR tem sobre nossas vidas.
Tudo que queremos da
sociedade, família e amigos, é algo tão simples, muito simples de
verdade. “Ser respeitados nas nossas limitações, compreendidos na nossa
dor, respeitados na nossa dor”.
Somos capazes de curar os
nossos sentimentos, de entendermos a nós mesmos, mas infelizmente não temos a
capacidade de curar os sentimentos das pessoas ao nosso redor.
A cura da AR é algo que
pode demorar para chegar, mas a cura da “Dor Social” é algo que juntos, unidos,
podemos acabar com ela, criando ambientes mais saudáveis para o convívio
social.
Se satirizam a sua doença,
seu estado de pessoa com a doença, essa pessoa não é digna de nossas lágrimas,
nem tampoco dignas de estar perto da gente, infelizmente as palavras que
ouvimos ficam marcadas em nós, como um fantasminha que ficam falando dentro da
nossa cabeça noite e dia, “doentinha, deficiente, Maria das Dores”, palavras de
impacto ficam dentro da nossa cabeça por dias seguidos, por mais que choramos
essas palavras não se vão junto com nossas lágrimas.
A incompreensão e rejeição
(não aceitação da nossa doença por outras pessoas) faz parte da vida, o difícil
é viver a dor social que, para mim, tem um impacto tão profundo, é como se
quebrasse um osso do nosso dedo que dói de AR.
A Dor Social pra mim é a
pior dor que a gente só conhece depois da doença, mas, a Dor Social tem uma
coisa boa: ela serve de espelho revelador, ela mostra quem são as pessoas que
nos amam e as pessoas que nos usavam enquanto éramos conveniente. Hoje, 5 anos
depois da AR, posso dizer quem são meus amigos, quem me ama de fato e com quem
posso contar.
E assim, vamos criando os trilhos da vida, de uma
pessoa que tem dor.
Matando um Leão, por dia!
Fonte: Minha Coluna RecomeçAR no Portal Reumatoguia