Ser mãe é uma grande fonte de inspiração para vencer um gigante por dia!!!
Quando a AR
invadiu a minha vida Tiago, meu filho, tinha 4 anos (hoje ele vai fazer 10),
meu primeiro pensamento: foi e agora? Como vou segurar meu filho? Quando ele
ficar doente, como vou cuidar dele? Como vou levá-lo ao parque, ao shopping?
Uma avalanche de questões e possibilidades tomaram conta da minha cabeça. Eu
olhava Tiago dormindo e chorava imaginando como eu iria ou não acompanhar o
crescimento dele. Até esse momento eu era a mãe super ativa: trabalhava todas
as noites, brincava com ele todas as manhãs e a tarde estudava e voltava para o
hospital onde trabalhava.
Essa era a minha
vida. E, derepente, passei a ficar em casa todos os dias. A princípio era
uma novidade pra ele, até que veio a primeira crise e fiquei internada, a
ausência foi diferente para ele, eu trabalhava e estudava muito, mas sempre
voltava pra casa e aí eu fui pro hospital e não voltei. A primeira internação
foi a única que deixei que levassem Tiago para visita, foi muito triste receber
ele no quarto, estando eu na cama de paciente e depois ver ele indo embora e eu
ficando. Logo após a primeira internação eu pedi a separação e, claro, que para
meu filho foi muita coisa: separação, uma mãe que tinha dor, que ficava
internada. Foi quando eu percebi que precisaria de ajuda para educá-lo, para
que ele compreendesse a doença, entendesse a minha dor e aceitasse as
diferenças, pedi ajuda profissional. Tiago fez terapia psicológica infantil,
fomos trabalhando a cabecinha dele, para que compreendesse, na linguagem dele,
como seria a nossa vida. Quando ele tinha 5 anos já sabia o que era a doença,
compreendia meus momentos de dores e nossa conversa passou a ser equilibrada,
sempre que ele quer fazer um passeio diferente, ele fala “se você tiver bem”.
Lembro um dia que ele ficou gripadinho e teve febre. Quando ele estava
queimando de febre disse: “mãe, não se preocupa eu vou melhorar e você não vai
ter que me carregar no colo”.
Eu penso
que não devemos ignorar, a nossos filhos, nossa doença, a criança, mesmo ainda
criança, deve ser orientada sobre a doença e condição especial da mãe. Eu
recebo muitos e-mails de mulheres que reclamam a incompreensão dos filhos
principalmente de filhos adolescentes, que ignoram as suas dores, acham que
elas estão sempre com frescura. Sempre pergunto, você já sentou pra conversar
com seu filho e contar pra ele um pouco da sua doença, mostrando as suas
necessidades especiais? 99% das respostas é não! Se queremos que nossos filhos
nos compreenda, nos aceite, nos ajude, cuide de nós, devemos em primeiro lugar
mostrar as razões porque as coisas são diferentes. Eu sei que é um momento
difícil, afinal, somos a mãe, quando nos tornamos mãe nasce, junto com a
criança, o espírito de cuidar, de zelar, de proteger. Mas quando enquanto mães
deixamos de cuidar para receber cuidados, é um momento muito delicado, mas
temos que saber administrar.
E a forma ideal de administrar isso é
através da educação. Devemos ensinar sobre o que é a doença, a dor, nosso
tratamento, nossa recuperação e dizer, que por mais difícil que pareça, que a
crise sempre vai passar e vamos ficar bem.
A
maternidade e a doença pra mim não se resume somente a meu filho, outro ponto
muito importante é a nossa mãe.
Eu tenho
que ser forte porque tenho um filho, e tenho que ser mais forte ainda porque
tenho uma mãe. Quando estamos nas piores dores, é automático, penso sempre no
meu filho e na minha mãe. Eles são a minha fonte de inspiração. Mas dói muito
saber que para eles dois eu sou uma fonte de preocupação. Meu filho ainda é
criança e já demonstra preocupação e cuidados, que até então nunca havia
mostrado. Ele quer saber dos meus remédios e tudo mais. Quando aconteceu aquele
desastre de mandarem eu ir passar no psiquiatra, no dia que fui ao psiquiatra,
ao chegar em casa Tiago perguntou: “mãe, o psiquiatra descobriu um remédio pra
sarar a sua dor”? Eu fiquei surpresa com a pergunta dele e pensei comigo que
precisaria falar a verdade pra ele, e respondi: “não filho, a mãe tem que
voltar ao reumatologista, o psiquiatra deu alta”, ai ele disse: vai na Dra.
Fernanda, ela vai te dar um remédio bom. Nesse dia eu e minha mãe ficamos
surpresas com a preocupação e as palavras seguras de Tiago, como pode?
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1º fotinha pós parto |
Quando vou
deitar, ele sempre pergunta se tomei remédio, se quero água e de manhã ele fica
só observando como vou me comportar. Se vê que estou com dor, procura não dar
muito trabalho e vai fazendo as coisinhas dele. Na escola ele sempre conta a
minha vida para as professoras, nas reuniões sempre tenho um olhar a mais, os
amiguinhos dele sabem que sou diferente, mas sabem na linguagem de Tiago e é
engraçado como se preocupam se estou bem, se podem aumentar o volume do
video-game.
Hoje eu
vivo com Tiago, aquilo que comecei a plantar quando a doença chegou foram
atitudes sucintas que ensinaram a ele que, apesar da doença, eu sempre serei a
mãe dele, aqui em casa não acontece aquela coisa de toda hora te lembrarem a
doença, “você tá bem?”, automaticamente criamos ao longo desses quase 6 anos
uma comunicação por atitudes e gestos, se estou no quarto Tiago sabe que não
estou bem, então não pergunta o que esta acontecendo, é automático se chamo do
quarto ele atende com prontidão e sempre sabe o que fazer. Pra mim tudo isso é
uma prova de que tudo que tenho ensinado ele aprendeu e a certeza de que
através do que vivemos em nosso dia-a-dia, Tiago será um adulto com princípios
de cidadania e pronto a ajudar o próximo.
Obs: Tiago não ocupa um assento preferencial
de jeito nenhum!!!
Texto original em: http://www.reumatoguia.com.br/interna.php?cat=13&id=682&menu=13