Todos nós sabemos que não é fácil
lidar com doenças reumáticas, principalmente quando se é jovem e tem uma vida
(ativa) inteira pela frente. Entretanto, existem pessoas que se tornam exemplo
de garra e determinação na luta contra a doença. É o caso da nossa mais nova
colunista, Priscila Torres, que descobriu ter Artrite Reumatóide aos 26 anos e,
desde então, quatro anos depois, é uma referência no assunto. Ela tem um blog
muito bem sucedido (ganhador de prêmios, inclusive) e, tal como nós do
Reumatoguia, tem sido a voz dos pacientes com reumatismo. Conheçam-na.
Quando e como foi que você descobriu
que estava com Artrite Reumatóide (AR)?
As dores começaram quando eu tinha 25
anos. Aos 26 eu fui diagnosticada com artrite reumatóide. Quando eu comecei
sentir dores, não fui ao médico, passei um ano me automedicando. Então, foi em
meados de 2006 que comecei a sentir minhas mãos pesadas, desastradas e rígidas
pela manhã. Quando fui ao médico, me disseram que eu tinha síndrome do túnel do
carpo bilateral. Me indicaram cirurgia que não foi necessária, pois neste meio
termo, a rigidez, logo pela, manhã foi se tornando mais intensa. Até que um
dia, ao acordar, observei que minhas articulações dos punhos, cotovelos,
ombros, joelhos e tornozelos estavam inchados, quentes e extremamente
doloridos, foi aí que pensei que pudesse ser AR. Fui ao posto e pediram para eu
procurar um especialista. Marquei uma consulta com uma reumatologista (até hoje
é a mesma) e, de olho, ela falou que eu tinha AR. Quando descobri, meu primeiro
sentimento foi o medo e indignação, pois sempre me achei boa demais e não
poderia ficar doente. Como era enfermeira, sempre tive muito cuidado com os
meus pacientes e, por conta disso, era injusto eu ficar doente. Me neguei e
chorava muito. Então, decidi que só tinha dois caminhos: viver revoltada ou me
aceitar e tentar viver melhor com isso. Escolhi o segundo.
Qual foi a sua motivação para fazer o
blog? Quando o colocou no ar?
Publiquei o blog em agosto de 2007,
quando já tinha dois anos de dor e um ano de diagnóstico. Minha motivação foi a
falta real de informação. Até porque, tudo o que eu lia era muito técnico e me
deixava apavorada. Eu queria ouvir os pacientes e isso eu não achava. Nesta
busca, esbarrava em pessoas que escreviam com muita amargura, deprimidas e eu
até chorava, fiquei em pânico com aqueles relatos. Foi por meio da comunidade
Superando a Artrite Reumatóide, no Orkut, que comecei a observar os assuntos
mais importantes para nós, portadores de AR. Foi daí que comecei a pensar no
blog. A princípio ele era apenas um lugar onde eu iria compartilhar as minhas
dores. Agora, ele já é um portal de informação, onde as pessoas me procuram
para superar as suas dores. É uma ajuda mútua.
Como você se sente ao ver o seu blog
um portal de referência?
Não sei explicar. O blog é minha
vida. Acordo, coloco água para fazer o café e ligo o notebook. Minha mãe diz
“já abriu o escritório?”. E é isso mesmo, um trabalho muito gratificante.
Dedico muitas horas do dia a ele respondendo as perguntas das pessoas, trocando
ideias. Posso dizer que a maior alegria que senti foi quando foi eleito 1º
lugar do júri popular do Top blog 2010. Chorei de alegria porque isso foi o reconhecimento
dos meus leitores, um presente sem valor. E tem também quando estou no SUS,
fazendo meu tratamento, e muita gente me reconhece do blog, agradecendo por eu
ter-los ajudá-los tanto. Isso não tem preço, estou cumprindo meu papel.
Você acha que existe carência de
informação sobre o assunto?
Sim, muito. Tem pouquíssima coisa
divulgada, por isso o Reumatoguia é tão importante. É claro que tem alguma
informação, mas, precisamos de coisas mais aprofundadas, que fuja do feijão com
arroz. Informações sobre qualidade de vida, readaptação profissional, vida
social e familiar, pois a AR não muda só o nosso sistema imunológico, muda toda
nossa vida. Para mim, a melhor forma de chegar a uma pessoa reumática e ser um
reumático. Falamos a mesma língua, dividimos as mesmas dores. Não é a toda que
meu slogan é “Dor Compartilhada é Dor Diminuída”.
Então, ter acesso a essas informações
é muito importante?
É primordial e fundamental para o
sucesso do tratamento e para uma boa qualidade de vida. Nós, pacientes orientados,
somos mais conscientes da importância de seguir o tratamento corretamente. O
portador de doenças reumáticas deveria receber, junto com o diagnóstico, um
“manual da vida reumática”.
A doença te ensinou alguma coisa boa?
E o apoio da família, é importante?
A AR me ensinou a cada dia me superar
mais. Conviver com ela é readaptar toda a nossa vida. O meu dia começa sempre
na parte da tarde, até porque, de manhã, estou com dores e só depois do almoço
é que vou ficando melhorzinha. Procuro ser ativa, apesar de estar aposentada, e
não posso parar. Penso que quanto mais parada eu ficar, mais incapacitada
estarei. Faço tudo conforme a minha capacidade. Eu, aos 30 anos, não posso usar
salto alto, por exemplo. Corro o risco de cair e, se eu não caio, não ando no
dia seguinte. A limitação física é superável, mas a pior limitação é a
ignorância da sociedade que nos olha diferente por ter um atendimento
preferencial, por exemplo. Entretanto, o apoio da família é primordial. Minha
mãe me acompanha em tudo. Consultas, exames, internações. Nos piores momentos
ela sempre esteve ao meu lado. Nunca derramou uma lágrima perto de mim, mas sei
que ela sofre ao me ver sofrer. Tenho um filho de nove anos, o Thiago, e ele é
a minha vidinha. Apesar de pouca idade, sempre me apoia. Está comigo em todas
as ações reumáticas, sabe que eu tenho a doença e que não estou bem. Respeita
meus limites e me ajuda quando preciso. Moro sozinha com ele, mas, quando não
estou bem faço um “disk mãe” e ela vem na hora me ajudar. Todos da família me
ajudam, tios, primos e minha vozinha, mas, me deixa triste saber que eu sou a
preocupação deles.
Como é o seu tratamento hoje? Que
remédios toma?
São tantos remédios, mas, vamos lá.
Uso metrothexate, prednisona, venlafaxina e tramal devido à neurite ótica.
Minha situação com medicação é delicada, pois além da neurite, eu tive hepatite
medicamentosa, causada pela ciclofosfamida e, no momento, estou repetindo
exames para voltar ao médico e saber o que devo usar direito.
Você tem algum medo com a doença?
Sim. Tenho muito medo das
deformidades e acometimento sistêmico da doença. Procuro não pensar muito
nisso, pois me leva ao desespero. Os meus dedos já apresentam desvios, estão
ficando tortinhos. Mas, nós, pacientes reumáticos jovens, temos esperança da
evolução do tratamento.
Deixe uma mensagem para os nosso
leitores.
Como portadora de AR, sei que não é
fácil, pois, quando a AR chega ela não avisa, nem se apresenta, ela invade as
nossas vidas e diz "cheguei e tô aqui". Claro que nunca diremos seja
bem vinda. Mas temos que dizer, “tenho AR, mas ela não me terá e eu irei
encontrar uma forma de fazer as mesmas coisas que fazia antes da AR”. Claro que
não devemos sustentar falsas esperanças, a AR muda toda a nossa vida, quando eu
digo toda, acredite, toda a vida mesmo, pois ela se fará presente no nosso
deitar e levantar. Por isso, eu acredito ser de fundamental importância
enfrentarmos a AR de frente, prontos para o combate diário e a limitação
presente. Com certeza, cada pessoa encontrará, dentro de si, forças que a gente
nem imaginava ter e, se acreditarmos que vale a pena viver a vida, encontramos
vida dentro de nós mesmo. E, só com isso, encontramos forças para superar a
dor, as limitações e, infelizmente, o preconceito.
“Dor Compartilhada é Dor Diminuída”
nos orienta a procurar conhecer e conviver com outros portadores da doença, não
para se vitimar e choramingar, mas, para unir forças e compartilhar
conhecimentos e experiências. Uma dica: procure não falar da sua dor e
sentimentos para pessoas que não tem a doença, somente compreenderá a sua dor e
sua vida quem sente a dor e tem a mesma vida que você, busque conhecimentos
sobre "qualidade de vida". É bom também estabelecer uma relação de
confiança com seu reumatologista, conte tudo para o seu médico, até mesmo as
coisinhas que a gente faz sabendo, porém, sabendo que não deveria fazer, o
sucesso do nosso tratamento depende também de nós mesmos. Portanto, nunca pare
ou mude a medicação sem a autorização do seu médico. E, finalmente, acredite:
existe vida após a AR!!!
Aguardem.... minha coluna no REUMATOGUIA uma importante fonte de informação e interatividade para nós reumáticos.